Só passa um pouco do meio-dia em Atlanta, onde o festival Warped Tour está a todo vapor. Jamie Tworkowski já abraçou 79 pessoas, posou para 56 fotos, deu 42 autógrafos, enxugou as lágrimas de 13 meninas (e de dois meninos adolescentes) e ouviu as palavras “Você salvou a minha vida” pelo menos uma dúzia de vezes. Ele viu frases de sua autoria tatuadas em peitos e pernas, segurou a mão de uma mulher enquanto ela chorava pelo filho morto e compartilhou sua raspadinha de cereja com um desconhecido que afirma querer ser igualzinho a ele. Tworkowski, um surfista de 29 anos que largou a faculdade, transformou-se em uma espécie de guru para toda uma geração de adolescentes perturbados, como mentor de um movimento acidental – isso se você acreditar em acidentes, o que não é o caso de Jamie.
A mensagem de salvador dele não tem assim nada de novo – toca na sensibilidade, traz um toque de cristianismo, vem misturada com empatia poderosíssima -, mas a maneira como é transmitida é radicalmente diferente da ideia melosa de sentir a dor do outro, tão comum com os adeptos da autoajuda. Ele é tão sincero que chega a desarmar, tem aquela beleza típica de surfista e tão genuíno que consegue transformar o anarquista mais preconceituoso e incrédulo em um suplicante chorão.
A organização que ele fundou há três anos, To Write Love on Her Arms (TWLOHA – “para escrever amor nos braços dela”) já se gaba de ter a maior audiência entre as ONGs presentes no MySpace, com uma enxurrada de mais de 100 mil mensagens – muitas delas, cartas de suicidas – de garotos e garotas em mais de 100 países. Se você é uma pessoa solitária com pensamentos violentos ou uma menina gótica que gosta de passar uma gilete pelo braço, é bem provável que os terapeutas e conselheiros que já conversaram com você pareçam só falar besteira. Tworkowski é a única pessoa que vai conseguir dizer alguma coisa que vai fazer diferença – usando o Twitter ou o Facebook ou em um show de rock, ou, se você tiver sorte, com um gesto mais antiquado: um abraço.
“Minha ideia nunca foi abrir uma instituição de caridade”, Jamie diz, enquanto bebe água em um intervalo nos autógrafos na tenda da TWLOHA no Warped Tour. “Nem dar início a um movimento. Mas todos nós nos identificamos com a dor. Em um nível simples, o que dizemos é o seguinte: ‘Isto faz parte do fato de sermos humanos’.”
Quando sobe ao palco, ele parece humilde, tímido, quase retraído. Veste jeans ou short e camisetas de bandas. A cadência dele se parece com a da poesia falada: entrecortada, abafada, hipnótica. Ele é absurdamente bonito – 1,90 metro, olhos pequenos e fundos, lábios carnudos e um ar de androginia nada ameaçador.
Na tenda, um fluxo contínuo de meninas e um punhado de meninos fazem fila, à espera de sua vez de desfrutar da companhia de Jamie. Eles saltitam e se agitam, soltam gritinhos de ansiedade. Uma menina de biquíni se inclina para a frente com o peito arrebitado. “Você dá autógrafo em seios?”, ela pergunta a ele.
Jamie não se deixa levar por tanta atenção. “Na verdade, o negócio não é comigo”, ele diz, enquanto assina o braço da menina. “A garotada só me associa a uma coisa que tem alguma importância para eles. Se você pensar no que está em jogo, é compreensível o fato de as pessoas reagirem como reagem. Parte do que fazemos é acreditar que a nossa história pode ter um final mais feliz.”
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